Mensagem da Palavra

“Paz-da-justiça”: desimpedir a chegada de Deus

Ainda três domingos nos separam do Natal. Logo mais estaremos celebrando que Deus quer chegar até nós. Mas será que nós lhe abrimos caminho? O evangelho nos apresenta João Batista, o austero pregador de conversão. Convoca o povo para endireitar os caminhos e aplanar as estradas, a fim de que Deus nos possa alcançar.
Para quem acredita, tal esforço não é penoso, pois a chegada de Deus não significa fiscalização, mas salvação: “Todos experimentarão a salvação que vem de Deus” (Lc 3,6). Quem espera coisa boa chegar, prepara a estrada com prontidão e alegria.
A 1ª leitura canta a beleza desta salvação que Deus nos traz: a cidade vai se chamar “Paz-da-Justiça e Glória-da-Piedade”. A justiça – o plano de Deus – produz paz e bem para todos, e o respeito e amor a Deus (a “piedade”) produzem a glória, a beleza e o esplendor de nossa sociedade. O contrário é verdade também: a exploração egoísta produz conflitos, e a idolatria do dinheiro, do poder e do prazer, um mundo desigual e inumano.
Se quisermos empenhar-nos por um mundo onde Deus se sinta em casa, afastaremos alegres os obstáculos que impedem isso. Obstáculos em nosso próprio coração: egoísmo, ambigüidade, desamor … Obstáculos no coração de nossa sociedade: estruturas injustas, desigualdades ruinosas, leis que produzem monstros de riqueza ao lado de miseráveis, política em favor só de alguns e não de todos …
Os obstáculos a serem derrubados estão em parte dentro de nós mesmos e, em parte, na estrutura de nossa sociedade. Importa trabalhar nos dois níveis, e isso, com alegria. Não com rancor, próprio dos que antes odeiam os outros (e até a si mesmos) do que amam o bem … O rancor não faz Deus chegar. O que marca quem procura experimentar a “salvação que vem de Deus” é a alegria. É uma alegria limpar o caminho para que a “Paz-da-Justiça” possa chegar, ainda que custe suor e luta.
Essa “Paz-da-Justiça” não provém de uma justiça qualquer, inventada por nós e feita sob a nossa medida, conforme nossos próprios interesses. Ela está em Jesus Cristo que vem. Para conhecer esta paz, importa ver o que Jesus faz e preparar-se para fazer o mesmo, como indivíduo e como sociedade. Vivermos conforme a justiça que Jesus nos mostra, participarmos do amor que ele tem ao Pai, é isso que vai ser nosso brilho e felicidade.
O sentido do Advento e do Natal não é algo sentimental, chorar de emoção por causa de uma criancinha. É alegrar-se porque aquele que podemos chamar de “filho de Deus” veio – e sempre vem – viver no meio de nós, para com seu exemplo e sabedoria, lucidez e entrega de vida, mostrar, no concreto, o que significa o bem conforme a última instância, que é Deus – a “Paz-da-Justiça”
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

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