Mensagem da Palavra

Alegria e exigência de mudança

Nossa sociedade perdeu a dignidade. A injustiça e a violência andam soltas. Sentimos indignação, desejamos o fim do reino do “vale tudo”. Não é ”terrorismo moral” dizer às pessoas que devem mudar, tanto na vida pessoal como na social. Mas a exigência de mudança deve ser inspirada pela esperança e pela alegria pelo bem que Deus sempre nos proporciona. A conversão dos indivíduos e da sociedade será o reverso de uma mensagem de alegria e esperança.
Como no domingo passado, também hoje o evangelho apresenta João Batista, o profeta e porta-voz de Deus, que exige nossa conversão para podermos encarar a vinda do Reino de Deus e do Messias (Lc 3, 10-18). Para isso, devemos deixar de lado toda injustiça, mesmo aquela que faz parte dos costumes de nossa sociedade, como sejam o ágio, a extorsão, os subsídios ilegais etc. Se fosse hoje, João Batista ensinaria certamente a pagar imposto e taxas sociais … Tudo isso faz parte da conversão para receber, com Jesus, o Reino de Deus.
Tal exortação exigente é, na realidade, parte integrante de uma mensagem de alegria: a mensagem da salvação que vem de Deus. “Deus estará no meio de ti”, anuncia o profeta Sofonias à cidade de Jerusalém (1ª leitura). Por isso, convém alegrar-nos e demonstrarmos nossa alegria na retidão e bondade de nosso proceder (2ª leitura).
No fim do evangelho ouvimos palavras fortes. Aquele que vem, o Messias, vai limpar a poeira, vai separar, no terreiro, a palha do trigo. E a palha será queimada … João ainda não conhecia a pedagogia de Jesus. Na linha dos antigos profetas, pretendia converter as pessoas mediante ameaças. Jesus converte com o dom da própria vida. A intenção de João Batista é que preparemos nossa vida para a alegria de ter Deus no meio de nós. A presença de Deus significa bondade, harmonia, paz … Para que a alegria de Deus possa chegar até nós, o profeta exige conversão pessoal e conversão da sociedade. Os exemplos propostos por João Batista são significativos: os que têm reservas estocadas devem repartir com os indigentes; os funcionários do imposto imperial devem deixar de exigir comissão para si; os soldados devem contentar-se com seu soldo e não praticar extorsão contra a população. Não se tratava de comportamentos meramente pessoais. Todos praticavam esses abusos (como ainda hoje), e para não agir assim, era preciso que o mundo fosse outro. Ninguém pode ser virtuoso e piedoso sem modificar também os costumes das pessoas e os procedimentos da sociedade na qual vive. Ser santo sozinho é ilusão.
A alegria da proximidade de Deus nos faz viver de um jeito mais limpo, mais radiante. Mas isso só tem sentido, se tornarmos mais limpo também o mundo em que vivemos, isto é, se tornarmos suas estruturas mais de acordo com o evangelho e o Reino. Senão, voltaremos a nos envolver na sujeira, como porco lavado que volta ao lamaçal.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

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